sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

PROTOPATERNIDADE

MARCELO NOVAES









Com quase cinquenta
remadas, eu restituí
o rio ao seu leito.



Amanheceu,
e eu aconteci.



Toquei a terra
e a voz que ela
emitiu foi
rugido.



Diante do juiz, diante do
mendigo, mantive-me;
permaneci.




Despedi-me,
porque sabia
me despedir;
e conhecia o
segredo das espirais
da respiração.




Transfigurei as faces
assustadas de meus
pais, na glória dos
filhos dos filhos
que não
tive.




E o que eu lhes dei,
não estava nos contornos,
nem nas dobras do olhar ,
nem no desenho sóbrio do
envelhecer,nem mesmo
na passagem
do tempo.




Não estava na neve,
nem na névoa,
não na jóia
de casamento,
nem na
solidão.




Não estava na chama
nem no fim da chama
nem no chamamento;
não estava nas dobras
do ir, ainda que
estivessem
indo...




Não estava na partida,
nem na chegada
de ninguém.




Nem no desanuviado onde não
se ouve voz,nem na canção-pra
-se-cantar-em-solo-sem-dono
-e-sem-choro.



Eu lhes dei presença
por permanecer de pé
sob a tarde-de-sempre.

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