MARCELO NOVAES
A primeira água do pote
nasceu do ventre
da terra, e eu logo
percebi o que se
passara.
Rezei à Nossa Senhora do
Cobre, pedi a Ela um certo
amor seco opaco morno,
da espécie de zelo que
toca o pó.
Pedi-Lhe paz
para suportar
vazios, entrevendo o
frio, até que a verdadeira
escolha surgisse.
Nada de extra
-ordinário.
Suportar o
tédio, sem apelação
ou sub-terfúgio.
Entreguei o ar pesado
à própria gravidade,
rezei à gravidade,
considerei o barro
como matéria
-prima do
amor.
Procurei pela palavra
ainda não expressa, e
ela dormia em meu
plexo, como pirata
de um olho
só.
Com o outro olho
procurei por grãos de
turmalinas-virtudes
-negras, em meio às
ilusõesde antigas e
douradas glórias.
O ouro é o território
do enfado, e dos
infartados.
Vi o vôo de dezessete
pássaros em torno de
um único caniço de junco,
enquanto ouvia as vozes
dos antepassados, e de
todos os meus íntimos,
em volume baixo.
Compreendi a fantástica
esfera de lava e fogo que
mora na boca do
estômago.
Sentado, beijei minha própria
face machucada, dentro de minha
respiração: corpus et animus, molde
e fôlego, meu torrão de terra natal.
"Que meus hábitos não des
-figurem o sopro, nem o
barro".
Foi então que me vi
trançando, em-mim
-mesmo, cesta de vime
carregando memórias
de ventos e bisavós.
Ouvi o choro dentro
das costelas de todos
que esbravejaram
comigo, um dia.
Procurei pelo mistério
acobreado, o mistério do chão
roxo acobreado.
E levantando o rosto
com meu olho cego
de pirata, enfim,
divisei a franja
branca da
luz-prata.
segunda-feira, 2 de março de 2009
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Olá,querido!
ResponderExcluirQue maravilha,me deliciei com esse poema
Sucesso. Beijos
Cibele